terça-feira, 29 de novembro de 2011

No âmago

Well, well... eu e Cortázar estivemos assim, enrolados, durante a última semana. E foi lindo. O cara é o gênio latino americano dos contos. Consegue transmitir uma densidade absurda em tão poucas páginas... Suas narrações vão levando a finais inesperados, devaneios de consciência alterada, e pontos de "virada" sensacionais!

É notável sua marcação de tempo; é como se ele traduzisse música e fotografia em letras.

As armas secretas traz apenas cinco contos, dois deles considerados o supra sumo de Cortázar: As babas do diabo (famoséeeerrimo) e O perseguidor.

"As babas do diabo" é o mergulho de um escritor num momento congelado na memória, um instante que ele criou diante dos olhos, mas que poderia ser qualquer outra coisa além do que imaginou...

"Então tenho que escrever. Algum de nós tem que escrever, se é que isto vai ser contado. Melhor que seja eu que estou morto, que estou menos comprometido do que o resto; eu que não vejo mais que as nuvens e posso pensar sem me distrair, escrever sem me distrair (aí vai passando outra, com as beiradas cinzentas) e recordar sem me distrair, (...)" p. 69

"Michel é culpado de literatura, de fabricações irreais. Não há nada que o agrade mais que imaginar exceções, indivíduos fora da espécie, monstros nem sempre repugnantes. Mas aquela mulher convidava à invenção, dando talvez as pistas suficientes para acertar a verdade." p. 70

Em "O perseguidor" ficou muito claro o amor do autor pelo jazz. Ele vai descrevendo a dissolução de um grande músico aos olhos de um jornalista, que é seu amigo mas ao mesmo tempo tem uma certa repulsa de toda essa mediocridade misturada com genialidade.

"Cartas de mamãe" tambem me impressionou. É perturbadora a angústia dos personagens diante da morte de alguém da família, sempre recordado pelas cartas da matriarca. "Os bons serviços" é no mínimo engraçado... a situação absurda em que uma senhora acostumada a serviços gerais na casa de ricaços se mete me fez rir um bocado!

Eu lí em algum lugar que "As armas secretas" é o ápice desse estilo fragmentado de Cortázar. É realmente o conto mais complicado de se acompanhar... um casal (e consequentemente a narrativa) em tempos diferentes... mas não é o meu preferido. Continuo fã dAs babas do diabo!

As armas secretas
Julio Cortázar
Ed. Civilização Brasileira
191 páginas

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