quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Em estado de ovo

As vezes acontecem coisas que me fazem questionar a qualidade da vida, como um todo, sabe?

Fico imaginando os arqueólogos de 3.516 escavando nossos túmulos, tentando adivinhar como foram nossos dias... mesmo eles sendo resultado indireto dos nossos passos, saberão dizer o que regeu nossas escolhas?

E porque estou filosofando essa hora da manhã?

Porque durante meu café da manhã uma única frase mudou todo o meu pensamento sobre a força que rege a maioria das pessoas que vivem à minha volta: a solidão.

Dia desses um amigo me disse que daria tudo pra ficar sozinho. Eu o entendo, perfeitamente. Estou quase sempre sozinha. E adoro, de verdade. A solidão me fascina, uma boa companheira desde sempre.

Não me entendam mal. Sou um ser sociável de natureza, a humanidade é fascinante - para o bem e para o mal! Mas é tão cansativa... hoje em dia todos estão tão carentes que qualquer relação é meio vampiresca... necessário ter um tempo de "recarga".

Enfim, sou bem resolvida com a solidão.

Tem gente que sofre com ela, mas ok, se vira bem. Chora um pouco, se sacode e bora. Tenho vários amigos que se pudessem escolheriam uma vida mais "povoada", mas se adaptam como dá. A solidão é uma característica do tempo moderno... todo mundo a sente, em algum grau.

Algumas pessoas não se dão nada bem com ela. Não conseguem extrair do sofrimento nenhuma força que poderia movê-los para frente... nenhum prazer em contar apenas consigo, e entram numa neura autodestrutiva. Humor corrosivo, comportamentos de risco. Ficam chatos, amargos, sobretudo tristes.

Agora, tem uma galerinha que fica totalmente mala aberta. Você dá um sorriso e o povo se abre todo, contando desde o dia em que nasceu até o que aprontou na noite anterior. Vem aquela necessidade absurda de compartilhar, não interessa com quem.

Desses eu tenho um pouco de medo - eles atrapalham a minha solidão. E as vezes soltam pérolas que me deixam chocada por um booooom tempo. Tipo a frase que ouvi hoje cedo, durante meu café da manhã. O garçom, menino muito simpático, reclamando da vida solitária e sofrida (a família é do Ceará, mora sozinho aqui há um ano), diante do meu sorriso de 64 dentes (definitivamente preciso aprender a ser menos simpática) declara em alto e bom som:

"Moça, veja, estou cansado de sair, dar beijinhos, amassos aqui, e pronto. Desculpe a expressão, mas já estou cansado de dar o rabo à toa."

Eu sou uma lady. Mantive o sorriso sem mexer nenhum músculo.


Um comentário:

  1. Logo cedo uma frase dessa!
    Fora a brincadeira, vejo uma solidão imensa e uma vontade de interagir com alguém, mesmo que seja o cliente.
    bjs e bom domingo.
    Jussara

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