domingo, 26 de junho de 2011

Inspiração

Lendo na revista Nova Consciência:

"Saudade só se diz em português"

Quem não conhece ou já não ouviu os singelos versos com que Casimiro de Abreu (1839 - 1860) inicia e termina sua composição mais popular, Meus Oito Anos, escrita em Lisboa, em 1857, na flor dos seus 20 anos?

"Oh! Que saudades que tenho
da aurora da minha vida,
da minha infância querida
que os anos não trazem mais!"

(...)

Saudade, palavra tão estranha! Mescla amor com esperança, é dor feito lembrança, é retorno em sentimento e um voltar do pensamento que em sonhos se emaranha! Difícil definir saudade. Sentí-la tão pouco é fácil... Vejamos o que nos diz sobre isso o abolicionista Joaquim Nabuco (1849 - 1910):

"Entre todos os vocábulos não deve haver nenhum tão comovente quanto a palavra portuguesa saudade. Ela traduz a lástima da ausência, a tristeza das separações, toda escala de privação de entes ou de objetos amados; é a palavra que se grava sobre os túmulos, a mensagem que se envia aos parentes, aos amigos. É o sentimento que o exilado tem pela pátria, o marinheiro pela família, os namorados um pelo outro..."

(...)

E nosso mestre Camões (1524 - 1580), atento à imponderabilidade de se deter o tempo ou recuperar as coisas já vividas, diante da assombrosa brevidade da vida, num de deus sonetos não demonstra ser menor o grau de sua inconformada angústia:

"Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
e se torna, não tornam as idades."

E eu próprio, saudoso de tudo, de minha infância querida, dos anos que não voltam mais, dos entes queridos que se foram, das tantas esperanças vislumbradas pelo círio da saudade, ou pela luz que transpassa o vitral de minha vida, medito às tardes sob a sombra dos laranjais, que a saudade possa ser a mais suave flor, ou o mais invisível dos tormentos, e concordo com o sábio Menotti del Picchia (1892 - 1988), quando ele diz:

"Saudade, perfume triste de uma flor que não se vê"


Homero Pimentel
Historiador e autor do livro Santos Dumont, bandeirante dos ares e das eras, editora Madras, prêmio Clio pela Academia Paulista da História

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