"Quando eu tiver dinheiro, farei isso. Quando eu tiver saúde, farei aquilo. Quando eu tiver tempo, serei feliz."
Você é feito da esperança...
"Se isso tivesse acontecido eu faria aquilo. Talvez seria diferente, caso ele tivesse concordado, caso ela tivesse negado. E quem sabe assim eu seria feliz."
Você é feito de conformismo...
"Esse dia começou mal. Esse trânsito me atrapalha. Essa pessoa me irrita. Essa comida não é bem o que eu quero. Não dá pra ser feliz assim."
Você é feito de negação...
"Ontem eu tinha o que precisava. Mês passado minha vida era perfeita. Quando eu era criança todos me amavam. Eu era feliz."
Você é feito de saudosismo...
E então, você é feito do passado ou do futuro?
Não estranhe a pergunta. Dificilmente estamos plenos de consciência, sentindo o ar que respiramos e percebendo o trabalho que estamos desenvolvendo neste exato minuto. Porque a mente, esse bichinho cheio de energia, está sempre se refugiando na imaginação do que poderá acontecer ou revivendo (e corrigindo) situações que já passaram. Pior, vai alternando de um estado para o outro, da imaginação para a recordação, e quando você fixa o olhar já é hora de dormir. O dia passou e você não sentiu.
E o coitado do corpo segue tentando acompanhar os pensamentos... se preparando para enfrentar situações que você cria na cabeça - e nem se concretizam. Comendo sem sentir gosto, se deslocando sem perceber o caminho, falando com todos sem absorver nada.
O corpo não sabe o que é real. Quer ver? Imagine-se neste exato instante beijando apaixonadamente aquela pessoa que te encanta. Você fechou os olhos... as pernas amoleceram de leve... talvez o coração tenha até acelerado um cadinho. Percebe? O corpo vai na onda da mente! Para o bem ou para o mal.
O antídoto já foi dado. Está na Bíblia (vigiai pois não sabeis quando virá o Senhor). Está no Bhagavad Gita (Quando um homem renuncia aos desejos dos sentidos engendrados pela mente, obtendo contentamento unicamente no Eu, diz-se então que alcançou a consciência divina). E certamente se encontra em muitos outros livros de sabedoria. As palavras podem ser diferentes, mas o sentido é o mesmo: esteja presente.
Concentre-se em pequenas ações para ir se acostumando à essa nova forma de ver o mundo: quando acordar, espreguice o corpo lentamente, sentindo os músculos destravarem após tantas horas inertes. Ao escovar os dentes volte sua atenção ao gosto da pasta, à sensação da espuma na língua, aos movimentos do braço. Durante as refeições procure saborear a comida, percebendo o gosto de cada um dos alimentos.
Devagar e sempre. O mundo anda muito apressadinho.
E principalmente, trabalhe com amor. Pois já avisou Clarice: "até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."