segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Ônibusfobia

Som, som! Marcelinho da Lua e Seu Jorge - "Cotidiano"
http://www.youtube.com/watch?v=-lTiwGumCdk

Sete horas da manhã. Cá estou eu, paradinha entre tantos outros na mesma situação: esperando o ônibus - sempre atrasado diga-se de passagem - que nos conduzirá até o trabalho.
Eis que avisto uma fumaceira preta lá na esquina. As pessoas começam a se movimentar. Não há dúvidas, é o meu ônibus! Respiro fundo e me preparo para mais uma aventura.
Vários dedos se agitam e o monstrengo pára em meio à barulhos irritantes. Espero o cavalheiro que delicadamente me empurrou subir. Ele sobe, eu subo, mais quinhentas e vinte pessoas sobem e vamos embora.
A catraca está dura mas o amigo cobrador dá uma força para a galera passar.
Ah! Hoje é meu dia de sorte! Vejo que há um lugar vazio lá no fundo!
Corro como um animal visando a sua presa, levando bolsas comigo enquanto murmuro diversos 'com licença' e 'me desculpe'. Tô quase... quase... conseguí! Abro um imenso sorriso vitorioso que se congela em meu rosto quando constato que o meu belo lugar vago estava na verdade mais do que ocupado por um vômito ressecado. Éca. Pelo menos não está mais fedendo.
Acho que a cara de desânimo que fiz foi tão óbvia que o senhor sentado no banco em frente ao desastre se levantou e ofereceu-me o lugar. Pensou que eu não iria aceitar hein? Disse-lhe um rápido 'obrigada' e quase derrubei-o ao me encarapitar no seu banco ainda quente. Estamos numa selva, não?
Sete e quinze. O ônibus está tão lotado que as pessoas no corredor nem precisam se segurar. Se vira pra esquerda todo mundo vira junto. É até bonito...
E mesmo assim um ambulante resolve subir pra vender sua mercadoria: um saco gigante de pururuca! Não contente em conseguir entrar no ônibus, ele resolve atravessá-lo de ponta a ponta, leva o boné de um, pisa no pé de outro, ei moço, cuidado com o saco! Nem que alguém quisesse comer pururuca essa hora da manhã daria para pôr a mão no bolso e tirar os 'dois passe ou um real' para comprá-la... depois de um tempo o vendedor finalmente desiste e desce (não sei como o saco não entalou na porta, de tão grande que era, e não estou exagerando).
Sete e meia. Hora do trânsito mostrar toda a sua passividade. Abro meu livro e mergulho na estória. E não contrariando aquele sábio ditado que diz que 'alegria de pobre dura pouco' descubro que meu livro está no fim e não peguei outro... olho para fora, mas depois de um tempo a gente enjoa de olhar a mesma frase pichada no muro.
Sete e quarenta. O que eu comí no café da manhã mesmo?
Sete e quarenta e cinco. Desisto, não consigo lembrar. Deve ser o cansaço.. resolvo me concentrar numa brincadeira que inventei para passar o tempo: se todos lá fora morressem e nós tivéssemos que repovoar o mundo, quem neste ônibus seria o meu par? Hum... nenhum Brad Pitt nesse carro... tem um moço olhando pra fora, não consigo ver seu rosto, será que é bonito? Levanto-me um pouco e me inclino fingindo que vou abrir mais o vidro, mas com os olhos grudados no fofo. Acho que meu olhar é magnético pois nem bem fixei os olhos no indivíduo e ele virou-se bruscamente para o meu lado! Com o susto caí no banco e batí o braço no ferro da frente! Doeu pra burro, não pude evitar um gritinho... e agora sim, todos no ônibus e inclusive o infeliz estão olhando para mim. E nem valeu a pena... alem da mancha roxa que já vejo se formar num ponto acima de meu cotovelo o mocinho é feio demais!
Desisto da brincadeira. O jeito é tentar dormir um pouco - de leve pra não perder o ponto, que graças aos céus, não está longe.

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