terça-feira, 17 de maio de 2011

Expedição Rio Pinheiros

Final de semana passado rolou uma iniciativa muito legal de envolver uma galera bacana na recuperação do Rio Pinheiros. E eu tava lá! Exibida que sou me inscrevi no grupo dos escritores, e domingão pela manhã tava lá no alto do Edifício Pinheiro Neto desenvolvendo algumas linhas para amolecer corações e gerar visibilidade para a causa!

Visitem o site do projeto Expedição Rio Pinheiros e vejam todas as formas de expressões que o rio inspirou! Tem texto, foto, som...


Trabalhando...


Muito bom saber que podemos ajudar de alguma forma, né? E modéstia a parte, o meu grupo foi sensacional. Só saiu coisa boa.

O texto criado compartilho abaixo. Comentários são sempre bem vindos!


Aridez


Que sujeira! Que cheiro de morte... hum... sinistro andar por esta trilha que antes estava coberta pela água... que sensação estranha andar pelo caminho aberto pela secura de um rio!

Quantas coisas antes ocultas... plantas e animais mortos, muita sujeira, objetos que podem nos contar tantas coisas...

Mas... ôpa, o que será isso?! Parece um caderno... sim, sim, é um caderno... como pode estar conservado? Veja isso, estava meio enterrado no lamaçal... e mesmo assim não se dissolveu na imundície, no lodo esverdeado que agora enxergamos. Você consegue pegá-lo? Cuidado, cuidado para que não se desfaça entre seus dedos!

Olhe só! É uma ruína! É o que sobrou de uma época (de uma era!), de uma pessoa... quem seria o dono? Hum... o nome está ilegível... muitas páginas também. E foi usado completamente. Agüentou tudo o que poderia agüentar e foi descartado, simplesmente abandonado nas águas turvas desse falecido rio.

Imagino que sejam idéias renegadas – mas não o suficiente para serem destruídas. Quem sabe o proprietário imaginasse que um dia estas palavras seriam descobertas, acabariam sendo lidas, apreciadas, talvez estudadas, quem sabe até expostas como as últimas palavras pescadas num ex-rio!

(barulho das folhas sendo manuseadas)

Hum... escute isso:

Meu corpo árido como um leito de rio que um dia secou.
Um caminho vazio, um encanto quebrado,
e um olhar embaçado de quem um dia esperou.

Poesias... veja esta mancha... aqui o rio interferiu no texto! Mudou o curso da estória! Virou um co-autor!

(mais barulho de folhas, flap flap flap)

Aqui consigo distinguir mais alguns pensamentos. Escute:

Meu coração seco como esta terra morta.
A secura do peito, uma promessa na garganta

Uma promessa... nosso rio foi uma promessa também, um dia, há tanto tempo atrás... continuemos:

e um olhar empedernido de quem um dia desejou

Nosso olhar também estava empedernido pelo concreto, não? Nem percebemos que o rio estava se esvaindo... desaparecendo... para mim foi como se tivesse acontecido num átimo! Pluft! Lá se foi o rio...

Veja, há continuações:

e ardeu furiosamente em si mesmo,
num grito sem eco, numa vontade solitária.

Teria o rio lutado? Teria sobrevivido se tivéssemos olhado, ou melhor, se tivéssemos enxergado a sua beleza, o seu poder, ou talvez nada disso, se tivéssemos apenas percebido a sua utilidade??? Talvez seu sofrimento pudesse ter despertado nossa compaixão, apiedado os nossos olhares!

E o cheiro desse rio? Que tanto me fez torcer o nariz... antes não tivesse fechado o vidro do carro, a janela da empresa, a porta da casa. Quem dera eu tivesse erguido minha voz para despertar quantos forem necessários, todos os que sentissem como agora me sinto...

E chorou todas as lágrimas
rezou todos os terços
e, lamúrias, se esgotou.

Fechei meus olhos, ignorei os gorgolejos, tapei o nariz. Virei o rosto, emudeci a alma. O rio deixou de existir para mim. E de tanto ser negado deixou de existir para si. Desistiu.

E agora é tarde...

O sangue engrossou nas veias.
Escureceu milhares de noites, morreu mil mortes
desistiu

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