sábado, 28 de julho de 2012

Não é o culpado que importa

Gentem, antes de tudo, a saga:

Cacei este aqui por livrarias infinitas, sebos sebosos mil, possíveis amigos que nunca emprestam livros... e não encontrei. Por fim, desisti e acabei encomendando naquele lugar abençoado, né, que no final nem existe: no estante virtual.

Eis que estava eu pela Paulista, correndo pra chegar na hora de um certo curso, e ao parar numa banca de jornal pra trocar um dim dim, o que vejo?

O quê? O quê? O queeeeeeê?

Quarenta e cinco exemplares do tal do livro. Versão pocket e baratinha. Fala sério. Então tá né, problema resolvido. Bora ler - e cancelar a encomenda virtual.

Interessante como é uma estória sombria... Desde o princípio um dos protagonistas carrega uma aura de dor e responsabilidade que só vai contaminando outros personagens e ambientes. Uma novelinha muito bem amarrada, isso sim, e com pouca cara de dona Agatha.

Uma das características mais marcantes da autora (para esta que vos escreve) é a capacidade de descrever crimes hediondos de um jeito que não pesa na consciência. É mais um quebra cabeça do que uma lição de moral, sabe?

Nesse aqui ela foge disso. Aliás, somos convidados o tempo inteiro à refletir sobre culpa e inocência; sobre o poder da justiça tardia em detrimento do silêncio.

Uma mulher trilhardária, cheia de amor pra dar e estéril, começa a adotar crianças pra aplacar esse vazio existencial (que pra mim é fome). E lá vai a dona doida sufocando os filhos e esquecendo do marido... até que a dita cuja é descoberta assassinada.

Todas as provas apontam para o filho ovelha negra. Ele é preso, julgado, condenado e morre na prisão. Alguns anos depois aparece um homem que corrobora o álibi do moleque, que é então absolvido in memorian.

Ao mesmo tempo em que se alivia a família de ter um integrante assassino... cria-se a tensão de se "saber" que um deles é o real culpado pelo crime (por dois agora, já que além do assassinato da matriarca, um inocente morreu na prisão). É minha gente... e aqui não tem Miss Marple ou Poirot para salvar o dia. É um investigando o outro, veladamente ou abertamente, até que a situação fique insuportável.

No final a coisa toda é muito simples - e essa é a maestria de dona Agatha. Ela faz a gente pirar o cabeção nas soluções mais dramáticas ever... pra nada.

Quanto vale a inocência?

Punição para a inocência
Agatha Christie
L&PM Pocket
270 páginas
Nota: 9/ 10

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Minha semana em 5 cliques

1. Muito frio por alguns dias... e uma luva perfeita para telas captivas!


2. A escolha das cores nas pontas dos dedos

 

3. Um curso inesperado (mas muito bem vindo)
4. A lembrança de uma alma atormentada


5. E uma conquista!


 

Alô?!

Pois é, segue o ciclo.

O tempo foge tanto quanto a vida demanda mais suor, mais atenção, mais cuidado.

Mas não se preocupem. A vida sem letras não tem a mínima graça... e cá estou novamente!




domingo, 15 de julho de 2012

Coração aquecido

Comecei a ler esse livro como quem não quer nada, sabe. A estória é toda inocente e com uma linguagem tão simples que me pareceu daqueles livros que a gente tinha que ler para o colégio. Aquela obrigação meio chata e sem sentido.

Mas ele foi me envolvendo, e quando terminei fiquei com aquela sensação de saudade que aparece quando a gente se apega aos personagens e tem que deixá-los, porque tudo já foi dito. Inocente e doce, muito doce, essa estória.

As "Mulherzinhas" são as March: Meg, a mais velha, simples e bonita. Jo, meio moleque, toda independente. Beth, praticamente uma santa e Amy, uma boneca linda e meio artista. E a autora vai descrevendo os acontecimentos que vão mexendo com a vida delas na Nova Inglaterra. A educação esmerada das meninas, suas pequenas falhas de conduta e arrependimentos, as consequências das escolhas de cada uma, tudo detalhado de forma clara e carinhosa. Um livro excessivamente feminino, by the way.

Difícil não tomar partido ou se identificar com as situações que as irmãs passam. Tinham fortuna, mas por um desses revezes da vida estão pobres, mas cheias de dignidade e orgulho, e vão enfrentando e descobrindo truques para, com a elegância de sempre, continuar com a vida. Life still goes on, sempre.

Não preciso dizer que a personagem que mais me fará falta será Josephine! Atrapalhada, espirituosa, geniosa, moleque. E escrevia, vejam vocês! A amizade com o vizinho que se torna o "irmão mais velho" e inseparável companheiro de Jo faz a gente torcer por um casamento... que acaba acontecendo, mas não do jeito que pensávamos.

Enfim, um clássico cativante, e com moral: a vida é isso, coisas boas e nem tão boas, mas com o olhar e atitude corretos tudo fica encantado!

Tem uma versão para o cinema com a Susan Sarandon e a Winona Ryder que é muito fofa. Chama-se Adoráveis mulheres e dá pra chorar até desidratar... olha o trailer:



Mulherzinhas
Louisa May Alcott
Ed. Ediouro
608 páginas

domingo, 8 de julho de 2012

Excesso de açucar faz isso

Estava eu saracoteando num grande shopping de São Paulo. Precisava comprar coisinhas de chá de bebê e chá de cozinha - aparentemente todo mundo resolveu casar e ter filhos.

E eu pensando em arrumar um emprego. Timing, gente. Cada um tem um - e o meu é retardado.

Pois é, estava lá, lá lá lá, e então descubro que uma das minhas docerias preferidas foi substituida por uma casa de brownies. Casa de brownies, gente! Brownie clássico. Brownie com damasco. Com amêndoas. Com mix de castanhas. Com chocolate amargo. Com chocolate branco. Com frutas vermelhas. Basicamente, chocolate, açucar, e o que você quiser.

Beleza, vamos provar. Com café sem açucar, porque açucar engorda.

Pois estou eu acomodada numa mesa, suspirando entre garfadas, e do meu lado uma família: papai, mamãe e um casal de filhos, pequenos, lindos. Uns quatro anos, acho. Pulando pra cá e pra lá, cheios de energia. E eu de olho, porque, né, a vida alheia é bem mais interessante.

Daí os dois correram pra dentro da loja. Eu de olho - e os pais neeeeem aí. Eles escolhendo os doces. Eu de olho - e os pais neeeeeeeem aí. Os atendentes meio sem saber o que fazer até que o pai, dis costas, vira o rosto e diz "pode dar o que eles quiserem".

O pai disse "pode dar o que eles quiserem" - sendo eles duas crianças de uns 4 anos numa loja de doces no shopping.

Meu primeiro pensamento foi "nuossa, meu pai NUNCA fez isso comigo."

Segundo pensamento "ainda bem."

E finalmente, o terceiro pensamento "cada um, cada um. Quem sou eu pra julgar."

Mas é de se pensar, não? Tudo bem que é só uma casa de doces, e cada uma das crianças pegou só um cupcake. Mas fiquei com a sensação de que a liberdade alí passou por cima do limite - e isso pode ser perigoso para uma pessoa que ainda não tem o juizo totalmente formado.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Meninos, eu vi!

Sabe quando você está no trem, e de repente um outro trem emparelha com o seu, e pela janela você vê um cara estrangulando uma moça?


Pois foi exatamente isso que aconteceu com Elspeth McGillicuddy, acredita? Pois é, ninguém acreditou. E a velhinha seria taxada de maluca e o assunto seria esquecido se ela não fosse amiga de uma certa Miss Marple. E vocês conhecem Miss Marple... se há um mistério ela descobre what the hell is going on.

E dona Marple estuda mapas e itinerários e deduz que só há um ponto em que um cadáver de uma morta assassinada dentro de um certo trem poderia ser desovado... uma propriedade rural próxima à linha do trem. E infiltra uma espiã entre os familiares que vivem por alí.

Claro que tinha um cadáver.

Aqui dona Agatha apresenta a família que estará no centro das investigações: Luther, inválido, senhor absoluto do lugar e deserdado pelo pai milionário, seus três filhos e uma filha que só poderão tocar na herança do avô quando o pai falecer, e um neto. Todos amarrados pelo testamento do avô - miseravelmente ricos e sem poder colocar os dedos no dim dim.

E o bendito cadáver no celeiro.

O investigador vai dando cabeçadas e descobre que há uma mulher que pode ter se casado com o falecido filho mais velho de Luther, ou seja, uma nova principal herdeira da fortuna. É, isso pode ser um motivo. Mas pergunta daqui, pergunta de lá, e talvez o cadáver seja uma bailarina mediocre que sumiu em Paris. E o que isso tem a ver com a família?

Necas, e é frustrante. Pra nós inclusive, já que Miss Marple não participa ativamente do desenrolar da estória, então em nenhum momento sabemos por onde anda seu brilhante pensamento. E toda vez que aparece a única pista que nos dá é: "é um caso muito simples, vocês estão complicando muito." Ah tá.

Um cadáver dentro de um sarcófago num celeiro meio abandonado só pode ser coisa simples.

Mas não dá tempo de ficar aborrecido; logo aparece outro assassinato. E alguém é envenenado... e não é o velho, que com sua morte beneficiaria todo mundo - e explicaria muita coisa.

Antes que a família seja toda dizimada Miss Marple faz uma pequena encenação e brilhantemente desvenda o caso. E ainda dá tempo de incentivar o casamento de sua linda espiã infiltrada...

A testemunha ocular do crime
Agatha Christie
Ed. Nova Fronteira
191 páginas

E não é?

Há dias volto para olhar essa foto tirada por Scott Schuman nas ruas de Nova York.
Algumas coisas fora do padrão me parecem tão curiosas e intrigantes  ....
A imagem desse garoto emulsifica formas tão antagônicas, que resolvi observá-lo.
Me pareceu um misto de homem e mulher. Menino e menina.
Tem olhos masculinos, mas tem um doce olhar feminino.
Sua pele é de miss lady vitoriana, mas tem um discreto bigode.
As sombrancelhas são hispânicas, mas desenhadas como as Audrey Hepburn...
Tem braços com músculos de homem, mas com leveza e contornos de mulher.
Fez rupturas com o convencional, mas não fez uso de alargadores.
Perfurou a estética tradicional, mas não usou piercings.
Gravou estampa , mas não se tatuou.
Optou por iténs femininos, mas esbarrou na seriedade do clássico.
Blue jeans, regata branca com singelo conceito artístico, mínimo de acessórios, e bolsa italiana 
Por fim, decidiu que podia vestir uma faixa pink com pois negras
O que faz, ou para onde vai, não se sabe, mas ele está exercendo sua crença, seu desejo, suas
idéias, valores - ortodoxos ou não. E quem sabe até, maqueando algumas emoções...
Acho que nossas escolhas estéticas nunca são à toa. Toda embalagem de produto informa do que se trata.
Nosso corte de cabelo, nossas opções de cores, nossas roupas e afins falam muito sobre nós....
.... Nos delatam
Beijos e boas escolhas de trajes !

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 Texto: Cristiane Fernandes Leal