segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Qara Koz


Tenho que confessar uma coisa... a feiticeira de Florença agarrou no meu pé e não quis soltar de jeito nenhum! Tive que dar uns bons safanões pra ela me largar. Com certa dor no coração, of course.


Porque ela é incrível! Ela enfeitiçou uma cidade inteira! Um imperador mughal! E ela está morta!

Nada mais sexy do que um símbolo morto.


Mas começa assim, a fábula: o grande imperador de Fatehpur Sikri, Akbar, recebe uma visita muito curiosa. Um estrangeiro de roupa esquisita e cara mais esquisita ainda. Pra completar, um homem mega inteligente, com habilidades mágicas, lingüísticas e lógicas. Super intrigado, Akbar aceita o fofo no seu círculo pessoal. E pronto, é exatamente o que o estrangeiro quer.


No princípio, haviam três amigos, Antonino Argalia, Niccolò "il Macchia" e Ago Vespucci. E é essa estória que o estrangeiro quer contar ao imperador, de como esses 3 amigos se enroscam com a princesa renegada. E quem é a princesa renegada?  Uma antepassada do Akbar. E quem é o estrangeiro? Filho da princesa! Logo, o que é o estrangeiro??? Tio do imperador!


Lascou-se.

A princesa renegada é um reflexo de La Loba, da Clarissa Pinkola Estées. Ela faz o que quer, e usa todas as suas habilidades pra isso. Inclusive seu poder sobre homens, claro. Mas vou dizer que ela é bem honesta, viu? Os caras “estão ligados” que é eterno somente enquanto dura! Mudérninho esse povo.


O que é legal na estória: os mitos e lendas que vão se misturando com história e geografia. A caracterização de Florença e Fatehpur Sikri é envolvente, mágica até. O imperador tem aquele harém gigantesco das mil e uma noites, mas a preferida é uma esposa imaginária. Imaginada com tanta dedicação que a corte inteira consegue ver a favorita! E o Maquiavel escrevendo sua obra prima – e sendo descartado pela realeza florentina. As prostitutas Esqueleto e Colchão (o tradutor deve ter se divertido um bocado, by the way) abrindo o maior puteiro da cidade. O pintor oficial do império mughal se infiltra numa das suas pinturas, pra ficar sempre perto da musa retratada – não por acaso, a princesa renegada.


E o bom humor (muitas vezes tão mal incompreendido) de Salman Rushdie é sempre encantador. Quase um Umberto Eco, oras pois.

A Feiticeira de Florença
Salman Rushdie
Companhia das Letras
395 páginas

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