Proclamando-os nossos, cedemos do tempo e do corpo imaginando tecer os fios que sustentam destinos. Do alto de nossos pés governamos o que pensamos ser mundo, sempre seguros de que o amanhã inevitavelmente chegará, enquanto olhamos sobre os ombros e vemos o ontem sentenciando nossos atos, ceifando possibilidades e amarrando escolhas.
O passado idealizado contrafeito pela memória do corpo atesta a fragilidade dos que tentam revisitar os caminhos. O que está escrito jamais se alterará... tal qual perfume exalado pela planta esmigalhada sob os pés: tão intensa por uma única vez, tão preciosa pela última vez.
Lutando contra nós mesmos, cerceados por essa vaidade e esse orgulho que entorpecem mentes e levantam regras, teimamos em sentir em nossas entranhas frases, citações e metáforas. Cheiros e lendas mesclam fibras. Gosto e suor minam de nossos poros. Tênues penumbras do que já foi menino, ora homem, ora sábio. Dentro de nós, o milagre do mundo, o segredo revelado.
E essa máquina maravilhosa e desconhecida curva-se ante o peso do tempo, sempre ele, este senhor inatingível que estende seus braços e oferece-nos suas mãos. E nesta sutil reverência, quando finalmente nossas mãos se encontram entendemos que não somos nada, não sabemos nada, e não vivemos nada.
E que isso realmente não importa.
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