Era uma vez um tomate. Vermelhinho, daqueles que a gente vê em comerciais na televisão.
O tomate vivia numa fruteira alta, e olha só: ele vivia entre as laranjas! Um tomate vermelhinho no meio das laranjas amarelas.
Numa noite dessas, o tomate estava feliz da vida conversando com suas amiguinhas laranjas enquanto a família feliz que vivia na casa estava jantando. De canto de olho ele viu que a família feliz terminava a refeição e retirava os pratos. Num minuto a cozinha estava quieta novamente. O tomate levantou-se e olhou em volta: “ué, esqueceram de fechar as cortinas” ele pensou. E olhando pela janela, ficou encantado ao ver quantas estrelas viviam lá alto, no céu.
- Olhem, laranjas! OIhem quanto brilho na noite! Terá festa hoje no céu?
- Como você é bobo, tomate! Esses brilhos que você vê são as estrelas, e elas vivem lá no céu!
- Quer dizer que elas ficam lá em cima, brilhando o tempo todo?
- Sim, elas ficam lá no alto o tempo todo. Só que de manhã tem uma outra estrela, gigante, que brilha muito forte e acaba escondendo o brilho dessas estrelinhas pequenas, e o céu fica todo de uma cor só: azul! Você nunca tinha visto, amigo tomate?
- Oh! Não, eu nunca vi esta estrela gigante... Estas cortinas sempre ficam fechadas durante o dia; é a primeira vez que as vejo abertas! Como o céu é bonito, mal posso esperar para ver como ele fica pela manhã!
E eles continuaram conversando e conversando, até que acabaram dormindo.
Pela manhã o tomate acorda num susto. A sua pele está pegando fogo!
- Socorro, amigas laranjas! Acudam-me que estou em chamas!
As laranjas se amontoam em volta do amigo e conseguem fazer um pouco de sombra.
- Que sensação horrível! Nunca havia sentido isso antes!
- É por causa do Sol, amigo tomate! Este é o nome da estrela gigante, que além de iluminar o céu inteiro, também aquece a Terra...
- Mas eu não posso suportar este calor! Como vocês conseguem?
- É que temos a casca grossa; você tem apenas esta pele fina...
-Vocês têm razão, a minha pele é tão fina que se solta com toda esta quentura. Quando este Sol vai embora?
- Xiiii... Somente no final do dia!
- Oh não! Preciso achar um lugar pra me esconder do Sol antes que acabe pelado!
O tomate olhou em volta. A fruteira é alta e ele é muito sensível, se pulasse acabaria esmagado no chão.
Mas espere! As pernas da fruteira são cilíndricas, se o tomate se agarrar com força com seus bracinhos de folha poderia escorregar até o chão!
- Amigas laranjas, eu vou me esconder deste Sol. Assim que ele for embora eu volto. Vocês podem fazer sombra até que eu alcance aquela haste da fruteira?
- Claro amigo tomate! Vamos todas cobrir você!
As laranjas se amontoaram mais uma vez e ajudaram o tomate à chegar nas pernas da fruteira.
Ele enrolou cuidadosamente suas folhinhas em torno do cilindro e olhou pra baixo. “Nossa, como é alto! Não posso cair, preciso prestar muita atenção” pensou.
- Até o final do dia, amigas!
- Cuidado tomate! Se a família feliz vê-lo passeando por aí eles vão pegá-lo e trazê-lo de volta!
- Não se preocupem, eu sou muito esperto! Até!
- Até!
Lentamente o tomate chegou até a beira da fruteira e deslizou suavemente até o chão.
- Nossa, as coisas parecem ainda maiores daqui!
Rolou vagarosamente pela cozinha procurando um canto fresco. Rolou, rolou até parar debaixo do armário. “Que alívio para minhas costas queimadas” pensou. Ficou quietinho e relaxado por um minuto, até que ouviu uma respiração. Sobressaltou-se.
- O que é isso? Quem está aí?
Com olhos arregalados examinou o lugar em que estava; deu de cara com um par de olhinhos brilhantes, tão arregalados quanto os seus olhos!
- Não me faça mal, por favor! Eu sou um tomatinho, ainda não cresci o suficiente! Também sou duro, olha só, não estou no ponto e minhas peles estão esturricadas por conta do sol...
- Ei, calma!
- Por favor, eu vou embora e você nem vai se lembrar que estive aqui...
- Espero mesmo. Aqui é a minha casa e não gosto de visitantes que chegam rolando, assim, sem mais nem menos. Eu sou uma lagartixa de respeito, não quero saber de brincadeiras na minha casa.
- Sim, claro, contanto que você não me coma...
- Ei, tomatinho, acorda! Eu não como tomates! Eu gosto mesmo é de uma baratinha bem suculenta, uns insetinhos desavisados... Tomates, só em ultimo caso!
- Ufa! Que alívio saber disso... Então eu vou embora. Mas não sei bem para onde ir. Escuta, você sabe onde posso me esconder deste Sol?
- Bem, aqui certamente não porque é a minha casa. Debaixo da geladeira também não, afinal a senhora aranha mora lá e ela é muito mal humorada, vai acabar mordendo você. Acho que poderia ficar debaixo da mesa, que tal?
- Não, lá alguém da família pode me ver, e aí eles me colocam de volta na fruteira... Por favor me ajude! Não posso voltar à fruteira, vou assar lá!
- Mas você é muito desesperado, fique mais calmo! Vou te ajudar a encontrar um lugar seguro, tudo bem?
- Você faria isso? Puxa, quanta bondade!
- Não conte com a minha bondade, tomatinho. É claro que você vai ter que me dar algo em troca...
- O que?
- Bem, não pensei nisso ainda... Mas deixa que no caminho eu penso. Vamos?
- Pra onde?
- Não sei... Que tal a sala? Vê aquela porta enorme? É naquela direção. Podemos ir tranqüilos; nesta hora a senhora da família está lá em cima, nos quartos. O senhor da família somente chega no final do dia, quando o Sol já se pôs, e as crianças aparecem quando a senhora desce e começa a cozinhar. Não sei onde elas ficam até essa hora...
- Uma vez ouvi um deles dizer algo sobre escola. É onde eles vão aprender as coisas.
- Mesmo? Curioso...
- Vamos?
- Vamos!
A lagartixa foi na frente examinando o caminho. Se visse a senhora ajudaria o tomate a se esconder.
- Pode vir, rápido!
E o tomate tomou impulso com seus bracinhos e foi em direção à porta. Atravessou o umbral e deu de cara com o gato da família!
- Ora ora, o que temos aqui... hum... Parece um tomate. Deixa-me ver se está bom...
- Socorro! Ele vai me comer!
Ao ouvir os gritos desesperados do novo amigo, a lagartixa mais do que depressa pula entre as patas do gato:
- Vem me pegar, sua bola peluda!
O gato arregala os olhos e sorri feliz:
- Mas hoje é meu dia de sorte! Um tomate e uma lagartixa! E eu a – do – ro caçar lagartixas!
E num pulo tenta abocanhar a lagartixa, que desliza entre seus pés e corre para o outro lado do corredor.
- Você não me pega!
- Ora, você pensa que eu desisto fácil? É melhor se preparar, lagartixa, porque hoje eu te pego!
E começa a correr atrás da lagartixa. O tomate fica apavorado, não sabe o que fazer. “E agora, pra onde eu vou? Se for pra sala o gato me pega, e na cozinha não tenho mais onde me esconder. E agora?”
- Psiu! Tomate!
- Hein? Quem me chama?
- Eu, aqui em cima!
- Oh! Senhor pássaro, como vai?
- Muito bem, obrigado. E você?
- Bem, estou com um problema... Preciso me esconder do sol, mas não consigo encontrar um lugar seguro.
- Ora, você pode ficar aqui na minha gaiola. Eu protejo você. Veja, tem bastante sombra por aqui.
- É verdade. Quanta gentileza senhor pássaro! Mas como farei para subir até aí?
- Você pode ver que a minha gaiola tem pés como a fruteira, você pode escalá-los, não? A porta fica logo ali, e se abre somente por fora. Muito fácil para você entrar.
- É mesmo... Mas como farei para sair depois, se a porta somente se abre por fora?
“Sair? Você nunca mais sairá daqui!” Pensou maldoso o passarinho.
- Poderemos colocar esta sementinha na porta, impedindo que ela se feche completamente! Aí poderemos sair quando quisermos!
- Muito inteligente senhor pássaro! Já estou indo.
E o tomate rola até os pés da gaiola. O gato continua correndo atrás da lagartixa na sala, pulando sobre os sofás, escorregando no tapete, miando e bufando enquanto a lagartixa dava risadas. Conseguia ouvir as provocações da lagartixa:
- Não me pega, não me pega!
- Lagartixa gorda, gosmenta e horrorosa, não perde por esperar!
E o gato pulava sobre os móveis. De repente, um barulho terrível de coisas se quebrando. O barulho é tamanho que o tomate não consegue ouvir suas amigas laranjas gritando desesperadas:
- Não tomate, não vá para a gaiola! O pássaro vai te comer!
Param de gritar assustadas. O que é isso? Serão passos na escada?
E a senhora da família feliz aparece no pé da escada, correndo afobada.
- Mas que barulheira toda é essa?
Em sua pressa nem percebe o tomate, perto da gaiola e paralisado de terror.
- Gato miserável, o que você aprontou desta vez? Se minha filha não fosse tão afeiçoada a este bichano mal criado, eu o colocava agora mesmo na rua! Olha só: quebrou meu vaso!
Com os gritos da senhora o tomate acorda do terror.
- Ei tomate, venha logo antes que a senhora volte e te veja parado aí, no meio do chão da cozinha. Ou pior, não te veja e acabe pisando sobre você.
- Sim claro, estou indo...
E começa a subir pelos pés da gaiola.
-Rápido tomate!
- Estou indo, calma. Não é fácil escalar estas coisas tão altas com bracinhos tão pequenos...
- Concentre-se, vamos!
A senhora agarra o bichano pelo cangote e o coloca do lado de fora da casa, fechando a porta em seguida. A lagartixa ainda sobe pela parede até a janela, só para provocar um pouco mais o bichano que ficou preso do lado de fora.
- Acho que você não é gato não! Acho que você é um burro! BUR-RO!
Quando se fartou de brincar com o gato – que miava furiosamente sem parar do lado de fora, a lagartixa lembrou-se de seu amigo tomate. Decidiu voltar à cozinha para verificar se ele havia conseguido um cantinho para se refrescar do Sol.
O pássaro vê a lagartixa vindo feliz e saltitante pelo corredor.
-Rápido, tomate, a senhora vem vindo!
- Estou quase... Quase...
O pássaro está diante da entrada da gaiola, tentando conter o impulso de bicar aquele tomate vermelhinho ali na sua frente. Os bracinhos do tomate alcançam a portinhola na hora em que a lagartixa levanta os olhos e vê seu amigo trepado lá em cima, frente a frente com o inimigo.
- Tomate, NÃO!
- O que?!
Com o susto o tomate solta a portinha da gaiola, que bate com força no bico do passarinho, fazendo-o piar de dor. O tomate cai lá de cima sobre o tapete e rola suavemente até os pés da lagartixa.
- Tomate, você ficou louco? Aquele pássaro queria te comer!
- Oh, eu não sabia...
- Pássaros comem frutos! Você não pode acreditar em tudo o que dizem a você, tomate.
O tomate começa a tremer de medo e de susto.
- Calma, calma, já passou. Venha, vamos para minha casa. Certamente é o lugar mais seguro agora.
- Não, você disse que não gosta de visitantes na sua casa. É melhor eu procurar um outro lugar pra ficar...
Seus olhinhos começaram a buscar uma nova alternativa. Estava com medo de seguir para a sala. E se o gato conseguisse entrar? Não, a sala não. Então lembrou-se que lá no fundo havia visto uma porta.
- Ei lagartixa, tem uma porta ali no fundo. Você sabe pra onde vai dar?
- Claro, é a porta que leva ao quintal.
- Acho que vou buscar abrigo no quintal, então.
- De forma alguma, tomate. No quintal o Sol bate em cheio, não há uma sombrinha pra você se abrigar! Melhor ficar dentro de casa mesmo. Venha, fique comigo. Você me deve um favor, lembra-se?
- Sim, claro que me lembro.
- Este então será o favor: você deve me fazer companhia hoje, até o final do dia.
O tomate sorri feliz. No fundo a lagartixa era boa, ficou feliz de tê-la encontrado.
- Tudo bem então, ficarei contigo, mas somente até que o Sol deixe de queimar.
- Muito bem, então vamos.
A lagartixa, mais ágil, correu pra sua casa, debaixo do armário. O tomate foi rolando com a suavidade de sempre quando...
- Oh não!
Ele pára ante o grito da lagartixa. Olha pra cima e vê...
... Vê o chinelão da senhora da família feliz. Ela estava parada, olhando para ele e coçando a cabeça.
- Mas como você veio parar aqui?
Lentamente se abaixa, pega o tomate e o recoloca na fruteira.Dá alguns passos em direção à porta dos fundos e volta:
- Olha a minha cabeça! Deixar o tomate aqui debaixo deste Sol...
E fecha as cortinas.
O tomate sorri feliz e acena para a amiga lagartixa, lá embaixo do armário...
- Ainda te devo um favor, amiga lagartixa!
- Não faltarão oportunidades, amigo tomate, não se preocupe!
Ótimo texto, Dani.
ResponderExcluirValeu.