quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Era uma vez um tomate...

Era uma vez um tomate. Vermelhinho, daqueles que a gente vê em comerciais na televisão.

O tomate vivia numa fruteira alta, e olha só: ele vivia entre as laranjas! Um tomate vermelhinho no meio das laranjas amarelas.

Numa noite dessas, o tomate estava feliz da vida conversando com suas amiguinhas laranjas enquanto a família feliz que vivia na casa estava jantando. De canto de olho ele viu que a família feliz terminava a refeição e retirava os pratos. Num minuto a cozinha estava quieta novamente. O tomate levantou-se e olhou em volta: “ué, esqueceram de fechar as cortinas” ele pensou. E olhando pela janela, ficou encantado ao ver quantas estrelas viviam lá alto, no céu.

- Olhem, laranjas! OIhem quanto brilho na noite! Terá festa hoje no céu?

- Como você é bobo, tomate! Esses brilhos que você vê são as estrelas, e elas vivem lá no céu!

- Quer dizer que elas ficam lá em cima, brilhando o tempo todo?

- Sim, elas ficam lá no alto o tempo todo. Só que de manhã tem uma outra estrela, gigante, que brilha muito forte e acaba escondendo o brilho dessas estrelinhas pequenas, e o céu fica todo de uma cor só: azul! Você nunca tinha visto, amigo tomate?

- Oh! Não, eu nunca vi esta estrela gigante... Estas cortinas sempre ficam fechadas durante o dia; é a primeira vez que as vejo abertas! Como o céu é bonito, mal posso esperar para ver como ele fica pela manhã!

E eles continuaram conversando e conversando, até que acabaram dormindo.

Pela manhã o tomate acorda num susto. A sua pele está pegando fogo!

- Socorro, amigas laranjas! Acudam-me que estou em chamas!


As laranjas se amontoam em volta do amigo e conseguem fazer um pouco de sombra.

- Que sensação horrível! Nunca havia sentido isso antes!

- É por causa do Sol, amigo tomate! Este é o nome da estrela gigante, que além de iluminar o céu inteiro, também aquece a Terra...

- Mas eu não posso suportar este calor! Como vocês conseguem?

- É que temos a casca grossa; você tem apenas esta pele fina...

-Vocês têm razão, a minha pele é tão fina que se solta com toda esta quentura. Quando este Sol vai embora?

- Xiiii... Somente no final do dia!

- Oh não! Preciso achar um lugar pra me esconder do Sol antes que acabe pelado!

O tomate olhou em volta. A fruteira é alta e ele é muito sensível, se pulasse acabaria esmagado no chão.
Mas espere! As pernas da fruteira são cilíndricas, se o tomate se agarrar com força com seus bracinhos de folha poderia escorregar até o chão!

- Amigas laranjas, eu vou me esconder deste Sol. Assim que ele for embora eu volto. Vocês podem fazer sombra até que eu alcance aquela haste da fruteira?

- Claro amigo tomate! Vamos todas cobrir você!

As laranjas se amontoaram mais uma vez e ajudaram o tomate à chegar nas pernas da fruteira.

Ele enrolou cuidadosamente suas folhinhas em torno do cilindro e olhou pra baixo. “Nossa, como é alto! Não posso cair, preciso prestar muita atenção” pensou.

- Até o final do dia, amigas!

- Cuidado tomate! Se a família feliz vê-lo passeando por aí eles vão pegá-lo e trazê-lo de volta!

- Não se preocupem, eu sou muito esperto! Até!

- Até!

Lentamente o tomate chegou até a beira da fruteira e deslizou suavemente até o chão.

- Nossa, as coisas parecem ainda maiores daqui!

Rolou vagarosamente pela cozinha procurando um canto fresco. Rolou, rolou até parar debaixo do armário. “Que alívio para minhas costas queimadas” pensou. Ficou quietinho e relaxado por um minuto, até que ouviu uma respiração. Sobressaltou-se.
- O que é isso? Quem está aí?

Com olhos arregalados examinou o lugar em que estava; deu de cara com um par de olhinhos brilhantes, tão arregalados quanto os seus olhos!

- Não me faça mal, por favor! Eu sou um tomatinho, ainda não cresci o suficiente! Também sou duro, olha só, não estou no ponto e minhas peles estão esturricadas por conta do sol...

- Ei, calma!

- Por favor, eu vou embora e você nem vai se lembrar que estive aqui...

- Espero mesmo. Aqui é a minha casa e não gosto de visitantes que chegam rolando, assim, sem mais nem menos. Eu sou uma lagartixa de respeito, não quero saber de brincadeiras na minha casa.

- Sim, claro, contanto que você não me coma...

- Ei, tomatinho, acorda! Eu não como tomates! Eu gosto mesmo é de uma baratinha bem suculenta, uns insetinhos desavisados... Tomates, só em ultimo caso!

- Ufa! Que alívio saber disso... Então eu vou embora. Mas não sei bem para onde ir. Escuta, você sabe onde posso me esconder deste Sol?

- Bem, aqui certamente não porque é a minha casa. Debaixo da geladeira também não, afinal a senhora aranha mora lá e ela é muito mal humorada, vai acabar mordendo você. Acho que poderia ficar debaixo da mesa, que tal?

- Não, lá alguém da família pode me ver, e aí eles me colocam de volta na fruteira... Por favor me ajude! Não posso voltar à fruteira, vou assar lá!

- Mas você é muito desesperado, fique mais calmo! Vou te ajudar a encontrar um lugar seguro, tudo bem?

- Você faria isso? Puxa, quanta bondade!

- Não conte com a minha bondade, tomatinho. É claro que você vai ter que me dar algo em troca...

- O que?

- Bem, não pensei nisso ainda... Mas deixa que no caminho eu penso. Vamos?

- Pra onde?

- Não sei... Que tal a sala? Vê aquela porta enorme? É naquela direção. Podemos ir tranqüilos; nesta hora a senhora da família está lá em cima, nos quartos. O senhor da família somente chega no final do dia, quando o Sol já se pôs, e as crianças aparecem quando a senhora desce e começa a cozinhar. Não sei onde elas ficam até essa hora...

- Uma vez ouvi um deles dizer algo sobre escola. É onde eles vão aprender as coisas.

- Mesmo? Curioso...

- Vamos?

- Vamos!

A lagartixa foi na frente examinando o caminho. Se visse a senhora ajudaria o tomate a se esconder.

- Pode vir, rápido!

E o tomate tomou impulso com seus bracinhos e foi em direção à porta. Atravessou o umbral e deu de cara com o gato da família!

- Ora ora, o que temos aqui... hum... Parece um tomate. Deixa-me ver se está bom...

- Socorro! Ele vai me comer!

Ao ouvir os gritos desesperados do novo amigo, a lagartixa mais do que depressa pula entre as patas do gato:

- Vem me pegar, sua bola peluda!

O gato arregala os olhos e sorri feliz:

- Mas hoje é meu dia de sorte! Um tomate e uma lagartixa! E eu a – do – ro caçar lagartixas!

E num pulo tenta abocanhar a lagartixa, que desliza entre seus pés e corre para o outro lado do corredor.

- Você não me pega!

- Ora, você pensa que eu desisto fácil? É melhor se preparar, lagartixa, porque hoje eu te pego!

E começa a correr atrás da lagartixa. O tomate fica apavorado, não sabe o que fazer. “E agora, pra onde eu vou? Se for pra sala o gato me pega, e na cozinha não tenho mais onde me esconder. E agora?”

- Psiu! Tomate!

- Hein? Quem me chama?

- Eu, aqui em cima!

- Oh! Senhor pássaro, como vai?

- Muito bem, obrigado. E você?

- Bem, estou com um problema... Preciso me esconder do sol, mas não consigo encontrar um lugar seguro.

- Ora, você pode ficar aqui na minha gaiola. Eu protejo você. Veja, tem bastante sombra por aqui.

- É verdade. Quanta gentileza senhor pássaro! Mas como farei para subir até aí?

- Você pode ver que a minha gaiola tem pés como a fruteira, você pode escalá-los, não? A porta fica logo ali, e se abre somente por fora. Muito fácil para você entrar.

- É mesmo... Mas como farei para sair depois, se a porta somente se abre por fora?

“Sair? Você nunca mais sairá daqui!” Pensou maldoso o passarinho.

- Poderemos colocar esta sementinha na porta, impedindo que ela se feche completamente! Aí poderemos sair quando quisermos!

- Muito inteligente senhor pássaro! Já estou indo.

E o tomate rola até os pés da gaiola. O gato continua correndo atrás da lagartixa na sala, pulando sobre os sofás, escorregando no tapete, miando e bufando enquanto a lagartixa dava risadas. Conseguia ouvir as provocações da lagartixa:

- Não me pega, não me pega!

- Lagartixa gorda, gosmenta e horrorosa, não perde por esperar!

E o gato pulava sobre os móveis. De repente, um barulho terrível de coisas se quebrando. O barulho é tamanho que o tomate não consegue ouvir suas amigas laranjas gritando desesperadas:

- Não tomate, não vá para a gaiola! O pássaro vai te comer!

Param de gritar assustadas. O que é isso? Serão passos na escada?

E a senhora da família feliz aparece no pé da escada, correndo afobada.

- Mas que barulheira toda é essa?

Em sua pressa nem percebe o tomate, perto da gaiola e paralisado de terror.

- Gato miserável, o que você aprontou desta vez? Se minha filha não fosse tão afeiçoada a este bichano mal criado, eu o colocava agora mesmo na rua! Olha só: quebrou meu vaso!

Com os gritos da senhora o tomate acorda do terror.

- Ei tomate, venha logo antes que a senhora volte e te veja parado aí, no meio do chão da cozinha. Ou pior, não te veja e acabe pisando sobre você.

- Sim claro, estou indo...

E começa a subir pelos pés da gaiola.

-Rápido tomate!

- Estou indo, calma. Não é fácil escalar estas coisas tão altas com bracinhos tão pequenos...

- Concentre-se, vamos!

A senhora agarra o bichano pelo cangote e o coloca do lado de fora da casa, fechando a porta em seguida. A lagartixa ainda sobe pela parede até a janela, só para provocar um pouco mais o bichano que ficou preso do lado de fora.

- Acho que você não é gato não! Acho que você é um burro! BUR-RO!

Quando se fartou de brincar com o gato – que miava furiosamente sem parar do lado de fora, a lagartixa lembrou-se de seu amigo tomate. Decidiu voltar à cozinha para verificar se ele havia conseguido um cantinho para se refrescar do Sol.

O pássaro vê a lagartixa vindo feliz e saltitante pelo corredor.

-Rápido, tomate, a senhora vem vindo!

- Estou quase... Quase...

O pássaro está diante da entrada da gaiola, tentando conter o impulso de bicar aquele tomate vermelhinho ali na sua frente. Os bracinhos do tomate alcançam a portinhola na hora em que a lagartixa levanta os olhos e vê seu amigo trepado lá em cima, frente a frente com o inimigo.

- Tomate, NÃO!

- O que?!

Com o susto o tomate solta a portinha da gaiola, que bate com força no bico do passarinho, fazendo-o piar de dor. O tomate cai lá de cima sobre o tapete e rola suavemente até os pés da lagartixa.

- Tomate, você ficou louco? Aquele pássaro queria te comer!

- Oh, eu não sabia...

- Pássaros comem frutos! Você não pode acreditar em tudo o que dizem a você, tomate.

O tomate começa a tremer de medo e de susto.

- Calma, calma, já passou. Venha, vamos para minha casa. Certamente é o lugar mais seguro agora.

- Não, você disse que não gosta de visitantes na sua casa. É melhor eu procurar um outro lugar pra ficar...

Seus olhinhos começaram a buscar uma nova alternativa. Estava com medo de seguir para a sala. E se o gato conseguisse entrar? Não, a sala não. Então lembrou-se que lá no fundo havia visto uma porta.

- Ei lagartixa, tem uma porta ali no fundo. Você sabe pra onde vai dar?

- Claro, é a porta que leva ao quintal.

- Acho que vou buscar abrigo no quintal, então.

- De forma alguma, tomate. No quintal o Sol bate em cheio, não há uma sombrinha pra você se abrigar! Melhor ficar dentro de casa mesmo. Venha, fique comigo. Você me deve um favor, lembra-se?

- Sim, claro que me lembro.

- Este então será o favor: você deve me fazer companhia hoje, até o final do dia.

O tomate sorri feliz. No fundo a lagartixa era boa, ficou feliz de tê-la encontrado.

- Tudo bem então, ficarei contigo, mas somente até que o Sol deixe de queimar.

- Muito bem, então vamos.

A lagartixa, mais ágil, correu pra sua casa, debaixo do armário. O tomate foi rolando com a suavidade de sempre quando...

- Oh não!
Ele pára ante o grito da lagartixa. Olha pra cima e vê...

... Vê o chinelão da senhora da família feliz. Ela estava parada, olhando para ele e coçando a cabeça.


- Mas como você veio parar aqui?

Lentamente se abaixa, pega o tomate e o recoloca na fruteira.Dá alguns passos em direção à porta dos fundos e volta:

- Olha a minha cabeça! Deixar o tomate aqui debaixo deste Sol...
E fecha as cortinas.
O tomate sorri feliz e acena para a amiga lagartixa, lá embaixo do armário...

- Ainda te devo um favor, amiga lagartixa!
- Não faltarão oportunidades, amigo tomate, não se preocupe!

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