Um livro duro, duro, duro.
Me enrosquei na personagem, Eva, mulher que levou o termo "independente" ao máximo grau, cidadã do mundo todo, não querendo pertencer a lugar algum... e mesmo assim, tãaaaaao americana. Um tanto quanto vazia, insolente, boba até.
Talvez por isso queira enraizar uma família e decide ter um filho. Ainda por isso, quando o primeiro filho demonstra-se inadequado ao seu conceito de "filho", decide - contra a vontade paterna, ter mais um. Uma menina, agora. Delicada demais, singela demais, vítima perfeita.
Anos criando um pequeno monstro e sendo confrontada pelo pai que não quer enxergar. Até o massacre final, a revelação do óbvio.
Precisamos falar sobre o Kevin é surpreendente, mesmo a gente já sabendo como tudo vai acabar. Pretende-se entender os sentimentos de uma mãe que se considera imperfeita, e vai além: tenta-se dar um propósito ao ato kamikase de seu filho. Que não é louco, nem desequilibrado, mas sim extremamente inteligente, e desafiador.
A autora foi muito feliz ao contar o drama do embate entre mãe e filho através de confissões, cartas endereçadas ao tonto do pai. Nas cartas Eva vai retratando o filho como ele é, e sua forma de testar os limites do permitido com requintes de crueldade, que vão se tornando cada vez mais perigosos e sinistros com o passar dos seus anos. Kevin pode até atinge o alvo, mas não quebra a frieza materna.
Através dessas cartas sabemos de toda a conivência do pai, que veste a camisa do paizão e segue num teatro ainda mais bobo que na solidão de sua vida anterior. Cada golpe de Kevin é amortecido e torcido, e o menino segue sem rédeas, cheio de raiva e numa angústia muda.
Depois de tudo, fui absolvida pela própria Eva, tão imperfeita, dura, e perfeitamente mãe.
Precisamos falar sobre o Kevin
Lionel Shriver
Ed. Intrínseca
463 páginas
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