Tava eu, por estes dias, lendo Caio Fernando Abreu. E hoje, resenhando, ao som de Legião. Claro. Porque nada combina mais com aquele desespero oitentista, tão bem representado neste livro, do que Legião Urbana!
E que desespero, hein. Acho que a característica mais marcante do sofrimento dessa geração é a falta de esperança. Dá até uma dorzinha no coração, de ler, e relembrar. Porque esta que vos escreve cresceu por alí, sabe? Eu era uma lobisgirl juvenil... e algumas coisas que o cara escreve têm referência direta com algumas passagens na minha memória.
Nove contos para o "mofo". Oito para "morangos". E um último, apoteótico, para o câncer imaginário (imaginário?!), que dá nome ao livro. Uma coleção de frases que tentam de alguma forma dizer que lutaram tanto, engajaram, quebraram regras, e daí? Não tem nada além do som, dos cigarros, das paisagens, das tentativas de amor. Há uma necessidade louca de ser livre... mas quem entende essa liberdade? E o que é pior: o que não se entende, não se aceita.
"Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorrir mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo (...)"
É mais ou menos como se os personagens tivessem entendido como a própria vida limita. E desistiram de fazer diferente, de ser diferente, porque a diferença assusta e a agressão alheia dói. E ao mesmo tempo que entenderam os limites externos, o mundo interno explode... mas pra onde se espalhar?
Que angústia.
Mas Caio F. liberta, no final.
"(...) será possível plantar morangos aqui? Ou, se não aqui, procurar algum lugar em outro lugar? Frescos morangos vivos vermelhos. Achava que sim."
Não é um livro para momentos fracos, vai por mim.
Morangos Mofados
Caio Fernando Abreu
Ed. Agir
158 páginas
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