Há uma marca na sua nuca. Estou sentada atrás de você e enxergo perfeitamente o contorno irregular da cicatriz. Você nunca mencionou-a... bem da verdade é a primeira vez que me atento que existem indícios de passado no seu corpo.
É alto verão e estamos todos entregues ao efeito sufocante do tempo. Meio moles, sem vontade de muita coisa.
O barulho do ventilador é meio irritante, tento ignorá-lo. Mas aquela marca na minha frente... o calor, o zumbido... entro numa espécie de transe acordada.
Tudo some à minha volta e uma outra realidade se apresenta. Vejo cenas que talvez não tenham acontecido, enceno diálogos imaginários, e momentaneamente tenho respostas para a questão que nunca será formulada.
Não há sentido em despertar os mortos.
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