quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O cheiro da pólvora no cano da arma

Acordei tão só quanto o sol, e ainda assim conformada. O gosto amargo do teu beijo queimou minhas pálpebras abertas para o luminoso ar que enche os pulmões e seca as narinas... as narinas... lembro-me delas inflando ao som da voz de leão rugindo contra as paredes dos meus ouvidos. Essas tuas palavras duras, áridas como meu coração drenado de todo o sangue, de todo suor do teu corpo no meu. A lembrança desse sonho me atingiu como estilhaço num susto refletido na janela. Os olhos vítreos que me encaram são os olhos que desacreditavam no movimento da tua boca ímpia, que revelavam dentes brancos em sorriso azedo. Não alcanço tua alma, bem da verdade meu esforço é em vão. O caminho da veia no teu braço é sugestão de delírio e desejo, mas carne morre, carne é tempo que passa. Memória tambem passa. Eis que o sofrimento não é atemporal e tudo isso me ocorre enquanto sobe o cheiro de café escada acima.

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